O perigo da bebida alcóolica na adolescência

6 de out. de 2011


Cada vez mais recorrente entre adolescentes,
o uso do álcool preocupa por suas consequências físicas,
mentais e, principalmente, sociais

Ao mesmo tempo em que a Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996, proíbe a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos, é comum o consumo de álcool pelos menores em festividades, ambientes públicos e até no ambiente domiciliar.
A sociedade como um todo adota atitudes frente ao tema: por um lado condena o uso abusivo de álcool pelos jovens, mas é permissiva ao estímulo do consumo por meio da propaganda e pelo exemplo, na maioria da vezes, na própria família.
O consumo cada vez mais precoce do álcool está relacionado a uma necessidade de auto-afirmação, muito comum na adolescência, onde ele quer ser aceito na sociedade. O álcool traz um mundo de fantasia, onde a ilusão de completude é preenchida pela sensação de onipotência, que muitas vezes oculta a face de uma grande impotência. “A ingestão de bebidas alcoólicas dá uma sensação de aumento na auto-estima, reforçando o sentimento de onipotência próprio da juventude. Isto contribui para o sentimento de igualdade no grupo de amigos e na sociedade, que também estimula este tipo de comportamento”, explica a psicóloga e psicanalista Ursula Krug, que atua há quatro meses na cidade de Três de Maio.
Conforme Ursula, os jovens procuram ainda por bebidas alcoólicas devido a desentendimentos com os pais e mudanças provenientes da própria fase da adolescência. Também contribuem os fatores genéticos e os fatores emocionais, (pois o álcool reduz o nível de ansiedade e algumas pessoas estão mais propensas a desenvolver alcoolismo), o custo baixo da bebida, a falta de controle na oferta, a persuasão das propagandas e a ausência de limites sociais.
Para a psicóloga, muitas vezes, o diálogo já é suficiente para alertar os jovens. É possível, que ele só queira algum apoio, alguém para conversar e, na falta disso, recorre a coisas que lhe possam passar a sensação de que está tudo bem. “Não adianta apenas proibir; é preciso conversar, expor o perigo do consumo de álcool e ajudá-lo a reconhecer quando há um problema. É importante que os pais se envolvam no problema, pois o álcool também afeta e adoece a família como um todo”, afirma, ressaltando que os pais devem reconhecer seus limites e quando não conseguem mais lidar com a situação procurar a ajuda de um profissional, pois o alcoolismo pode estar também relacionado a quadros depressivos. “A crise na identidade leva à crise de valores, por isto, é fundamental que estejamos atentos para as atitudes e a formação que estamos dando para os nossos filhos, que serão os adultos de amanhã e pais de uma nova (e saudável?) geração”, alerta a psicóloga.

O consumo de álcool pelos jovens aumenta consideravelmente no período do carnaval

A alegria da festa de carnaval esconde uma situação de risco que se repete a cada ano: o elevado consumo de bebidas alcoólicas entre adolescentes. O clima permissivo da festa, além do incentivo dos ami-gos, contribui para que muitos experimentem o álcool pela primeira vez.
Essa primeira experiência pode ser o ponta pé inicial para um hábito extremamente nocivo que causa dependência, com graves consequências para a saúde - o uso frequente do álcool na adolescência produz danos ao cérebro, afeta a memória e prejudica a aprendizagem -, além de favorecer o desenvolvimento de problemas familiares, como a violência, e o início de uma vida sexual promíscua.
Em meio às bebidas desenfreadas, musicas conta-giantes e a euforia dos foliões, se torna muito complicado exercer um controle sobre os adolescentes que irão participar da festa, porque é justamente no carnaval que muitas pessoas abusam do álcool e aproveitam para fazer o que não teriam coragem de fazer em outros momentos. Os adolescentes buscam um sentimento de igualdade dentro do grupo como forma de identificação em meio à turbulenta fase que se encontram. Há um receio por parte do adolescente de que o grupo possa deixá-lo de lado se não adquirir a atitude da maioria, o que o leva muitas vezes a ter um certo tipo de comportamento, mesmo que prejudicial. A maioria dos adolescentes acabam experimentando a bebida alcoólica para não ser o careta da turma.
Quanto mais cedo um adolescente tiver contato com o álcool, mais chance terá de se tornar dependente. A dica é que os pais fiquem atentos aos filhos e conversem abertamente com eles explicando os verdadeiros efeitos do álcool, principalmente quando em excesso.

Conselho Tutelar auxilia adolescentes
no combate ao alcoolismo
O Conselho Tutelar de Três de Maio auxilia os adolescentes no combate ao alcoolismo. Segundo a conselheira Ivete Oliveira, o Conselho cria um registro de controle com todos os dados do menor denunciado, que em seguida é visitado ou notificado a comparecer ao órgão para uma conversa. Caso a conversa não alcance êxito, o adolescente e sua família são encaminhados para o PAIF, Programa de Atendimento Integral à Família, que dispõe de assistentes sociais e psicólogas para auxiliá-los na prevenção do alcoolismo.
Segundo as conselheiras, alguns adolescentes não aceitam ajuda. “A persuasão dos amigos ou o exemplo dos pais, são fatores consideravelmente influenciáveis na formação do caráter do adolescente. A base estrutural do menor está na família e cabe a ela conscientizar e colocar limites aos seus filhos”, afirma Dilse Baú, conselheira tutelar.
Jovens dizem que gostam de beber por diversão
e para acompanhar o grupo
Na região, são várias as casas noturnas que permitem entrada de menores de idade. Porém estes estabelecimentos precisam exercer certo controle para impedir que um menor venha a se embriagar. Conforme o sócio proprietário de uma casa noturna de Três de Maio, Mateus Casali, a fiscalização é realizada na entrada da boate. Quando é constatado que é menor de idade, é solicitada a sua Carteira de Identidade e a pessoa recebe a comanda com a inscrição da letra A, o que significa que o indivíduo só poderá consumir bebidas analcóolicas. “Infelizmente, o que acontece é que menor pede emprestada a comanda de um amigo maior de idade para marcar bebidas alcoólicas, e aí não existe como obter um controle maior”, explica Casali.
Os motivos pelo qual o adolescente é induzido a beber são os mais variados, desde uma tentativa de auxiliar na desinibição, a busca por um encaixe social, e uma opção para afogar as mágoas. O adolescente G.M de 15 anos, afirma que gosta beber por diversão em festas e na companhia dos amigos, mas que para ingerir bebidas alcoólicas é preciso ter muita consciência e saber se controlar. “Já presenciei amigos meus passando mal por causa de bebidas alcoólicas. Alguns até ajudei a carregá-los, pois sei que fariam o mesmo por mim, mas cuido para não chegar ao mesmo ponto que eles”, revela.
A mãe do adolescente tem o conhecimento de que o seu filho ingere bebidas alcoólicas, pois são raras as festas que não oferecem bebidas. Para a mãe, acompanhar o adolescente em todos os lugares e controlar suas atitudes é muito difícil, para isso é preciso confiar nele. “Hoje em dia os adolescentes começam a beber cada vez mais cedo, por falta de diálogo, carência, ou porque os amigos também bebem. Algum motivo deve haver para os adolescentes beberem além da conta. Eles acreditam que para ser adulto é preciso estar com um copo de cerveja na mão e um cigarro na boca. Nesta hora cabe aos pais dialogar e colocar limites”.

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